Gêmeos
Na esquina, sob o sol inclemente, ela estava lá. O olhar numa
existência passada. Não tinha mais o corpo com a cintura de pilão como
na música. Os filhos sumiram. A maquiagem que mais parece reboco tenta
disfarçar as rugas. O perfume é forte. As mãos seguram a bolsa comprada
num brechó vagabundo. A bolsa disfarça a barriga proeminente. A roupa
não é mais justa. Afugentaria possíveis clientes. Os carros passam e não
há olhares em sua direção. Apenas, de vez em quando, crianças. Aí o
dela brilha. Um quintal com flores se abre e o abraço da mãe sentada na
cadeira de palha na área invade. Alguém chega e pergunta quanto. Ela
diz. O velho vai embora contando as moedas dentro do bolso. Então ele
chega. E fica ao seu lado. Sem falar nada. Ela não liga. Há louco para
tudo. Então ele começa a cortar a negociação com os outros clientes. Ela
não reclama porque ele paga o que ela receberia depois do sexo naquele
hotel vagabundo da avenida poluída. Tem um maço de dinheiro. Ela torce
para que mais possíveis clientes se aproximem. Mas não são muitos. Mesmo
assim, nunca ganhou um dinheiro tão fácil. A noite desce o manto. Ela
olha para ele. Agradece. Ele nem responde. Vira-se e caminha sem rumo
para ser engolido pela cidade.
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