HORÓSCOPO
por
Zé da Silva
Leão
Como se saísse debaixo daquela árvore frondosa, brisa do mar
acariciando o corpo, som de pequenas ondas quebrando, pássaros a cortar o
céu, compondo quadros vivos de pinturas guardadas num livro qualquer
esquecido no tempo. Aí veio o inferno. Não em forma de labaredas, mas de
mormaço, daqueles onde o ar queima tudo ao entrar
– e ao sair mais ainda. E a espreguiçadeira vira aparelho de tortura,
mas sem torturar, apenas pelo fato de o corpo não obedecer a mente, e
ficar ali imóvel, a espera das escaras espetadas por agulhas a cada
respiração. Não existe Deus. Não existe o Diabo. Não existe. Quanto
tempo assim? Quanto tempo assado? Uma vida patética e sem gosto seria
melhor do que instantes no paraíso e descidas a este desconhecido
rotineiro. Um beijo de anjo e, ao mesmo tempo, costas retalhadas por um
golpe de urso gigante com unhas incandescentes. Pronto.
Alguém assovia uma canção. A luz do fim da tarde espalha estrelas na
superfície da água. O vento vira as páginas de um livro aberto ao lado
da cadeira. É preciso ler para não morrer.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2011/03/09/horoscopo-290/
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