por Zé da Silva
Leão
Ouro Verde. O nome do time. Consenso da turma toda. Quantos? Doze,
para ficar bonito. Turma de rua. De terra. O combinado estava no
calendário. Temporada de tudo. Pião, pipa, bola de gude, aventuras na
lagoa, caçadas com estilingue e a rivalidade com os da outra rua, que
eles chamavam da avenida central. O jogo sempre era contra eles. No
nosso campo. Só nós tínhamos. Um terreno baldio descaído. Mas com as
marcas, as traves colocadas na hora. E só o Ouro Verde tinha vestiário.
Um barracão nos fundos de uma casa vizinha. Ali morava o melhor de todos
os jogadores. Baixinho, claro. Canhotinha, evidentemente. O clássico
dominical começava exatamente quando os fiéis da missa das nove
retornavam para suas casas. Os homens paravam ali. Era o público. E só
um tinha uniforme. Na verdade um escudo costurado com dedicação na
camiseta branca por uma mãe de jogador. Ouro Verde era mágico, sonoro – e
fazia quem entrava naquele campo de terra escura, batida, jogar com a
gana de quem defendia a pátria. A pátria daquelas crianças de um bairro
pobre da periferia, mas rico de tanta fantasia, tanta imaginação, tanta
luminosidade. Ele lembrou disso quase meio século depois. E ficou feliz
por ter jogado naquele time que existiu e hoje é um sonho.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2012/10/12/horoscopo-350/
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