quinta-feira, 18 de outubro de 2012

MOBY DICK

 

Herman Melville


Nasceu em Nova York, no dia 1º de agosto de 1819, em uma família de origens inglesa e holandesa. Durante sua infância, a situação social da família era confortável. Mas seu pai, um senhor refinado, teve sérios problemas financeiros que o levaram à falência no ano de 1830. Ele morreu logo em seguida, deixando a mulher e os oito filhos numa situação instável, fazendo com que a educação de Herman cessasse por volta dos seus quinze anos de idade. Ele começou a trabalhar para auxiliar no sustento da família, e foram várias as suas ocupações: bancário, vendedor na loja de peles do irmão, professor e colono. Em 1839, embarcou como cama­reiro em um navio que zarpava para Liver­pool. A viagem, angustiante e ao mesmo tempo romântica foi mais tarde descrita no seu texto Redburn e ensinou a Herman o amor pelo mar. Outra viagem – desta vez iniciada em 1841, com duração de dezoito meses –, em um baleeiro pelos mares do sul, também forneceria muito da matéria-prima utilizada posteriormente pelo escritor na sua obra, em especial na sua obra-prima, o romance Moby Dick.
Em julho de 1842, Melville desertou do navio na Polinésia, vivendo entre selvagens nas ilhas Marquesas por vários meses. Juntou-se a uma embarcação comercial australiana, mas abandonou novamente o navio por ocasião de um motim e foi preso no Taiti, acusado de deserção. Voltou aos Estados Unidos em 1844, como um marinheiro, na fragata chamada United States, que aportou em Boston. As histórias de aventura Taipi (sua primeira obra), Omoo e White-Jacket – todas escritas com base nessas viagens, sendo que as duas primeiras relatam suas experiências com os povos autóctones – renderam-lhe sucesso imediato e um vasto público.
Casou-se em 1847 e em 1850 mudou-se com a mulher para uma fazenda de propriedade do casal, no estado norte-americano de Massachusetts, onde redigiria Moby Dick, considerado por inúmeros estudiosos como um dos romances mais importantes da literatura ocidental. Melville e sua mulher viveram nessa fazenda por quinze anos. Durante esse tempo, o casal tornou-se íntimo do vizinho e colega de letras, o escritor Nathaniel Hawthorne (1804-1864), autor de A casa dos sete patamares, entre outros livros, e a quem Moby Dick é dedicado. Nathaniel Hawthorne e Herman Melville formariam um importante par da intelec­tuali­dade norte-americana da época. Em uma fase de definição da identidade estado-unidense, quando a estética romântica dominava o Novo Mundo, a ética da literatura deles fez eco ao bardo Walt Whitman (1819-1892) e sua busca quase religiosa pela essência das coisas e dos homens. Estudiosos da literatura norte-americana viriam a chamar Hawthorne, Whitman e Melville, assim como outros escritores da Nova Inglaterra de então, de “transcenden­talistas” por conta do viés religioso, por vezes messiânico, da sua literatura, que buscava, através das letras, uma conexão de bondade, compaixão, sentimento de amor onipresente e virtude com todo o Universo.
Em 1851 é publicado Moby Dick. A popularidade de Melville diminui. Na medida em que o escritor optou por tratar de temas mais complexos e elaborados, sua obra foi tornando-se desin­teressante para os leitores que esperavam simples relatos de aventuras, como seus primeiros escritos.
Em novembro de 1853 é publicado o primeiro encarte de Bartleby, o escriturário: uma história de Wall Street, no periódico Putnam’s. Bartleby, considerado hoje um dos melhores contos da obra melvilliana, está igualmente imbuído daquele sentimento que é a marca registrada do escritor: a noção da importância daqueles momentos na vida quando, contrariando uma orientação consciente, algo da nossa natureza de seres humanos misteriosamente toma o comando, conduzindo-nos de modo aparentemente contrário a nossa vontade, e, igualmente, a noção de que são esses os momentos em que a nossa história moral é determinada.
Nas histórias do período que vai de 1853 a 1856, nota-se uma forte preocupação autobiográfica. O duro esquecimento por parte do público e o desgoverno da carreira literária de Melville refletem-se no papel em situações de retiro pessoal, resignação, derrota, resistência estóica e sofrimento passivo em um mundo duro – além de personagens vivendo e sobrevivendo após terríveis desastres – e esforços, por vezes vãos, para evitar catástrofes maiores.
No período de 1856 a 1885, Melville abandonou a escrita em prosa (assim como abandonara a idéia de uma carreira bem-sucedida de escritor), dedicando-se apenas a versos, incluindo poemas sobre busca religiosa. Em 1860, o período criativo de Melville já terminara, e ele tentou ganhar dinheiro como palestrante. Mudou-se para a cidade de Nova York durante a Guerra Civil Norte-Americana e três anos depois, em 1866, foi nomeado fiscal da alfândega. Permaneceu no cargo burocrático por dezenove anos. Morreu em Nova York, sua cidade natal, em 28 de setembro de 1891, deixando alguns manuscritos incompletos, entre os quais Billy Budd, Sailor, descoberto apenas em 1920.
Somente a partir das primeiras décadas do século XX é que a obra de Melville seria reava­liada em uma escala de importância, renovando o prestígio do autor. Como toda a sua literatura é perpassada pela busca da perfeição do homem e pela constante luta entre o Bem e o Mal, a crítica da segunda metade do século XX viu em Melville um precursor do existencialismo, e o escritor francês Albert Camus chamou-o de “O Homero do oceano Pacífico”. Antes ou depois de Melville, nunca a idéia de retidão moral foi tão atraente, justi­ficada e ou transcendente.

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