LEON TOLSTOI
Se examinarmos um
indivíduo isolado sem o relacionarmos com o que o rodeia, todos os seus
atos nos parecem livres. Mas se virmos a mínima relação entre esse
homem e quanto o rodeia, as suas relações com o homem que lhe fala, com o
livro que lê, com o trabalho que está fazendo, inclusivamente com o ar
que respira ou com a luz que banha os objetos à sua roda, verificamos
que cada uma dessas circunstâncias exerce influência sobre ele e guia,
pelo menos, uma parte da sua atividade. E quantas mais influências
destas observamos mais diminui a ideia que fazemos da sua liberdade,
aumentando a ideia que fazemos da necessidade a que está submetido.(...)
A gradação da liberdade e da necessidade maiores ou menores depende do
lapso de tempo maior ou menor desde a realização do ato até à
apreciação desse mesmo ato. Se examino um ato que pratiquei há um
minuto em condições quase as mesmas em que me encontro atualmente, esse
ato parece-me absolutamente livre. Mas se aprecio um ato realizado há
um mês, ao encontrar-me em circunstâncias diferentes, a meu pesar, se
não tivesse realizado esse ato, não existiriam muitas coisas inúteis,
agradáveis e necessárias que derivam dele. Se me translado com a memória
a um ato mais remoto, a um ato de há dez anos ou mesmo mais, então as
suas consequências ainda se me apresentarão mais evidentes e ser-me-á
difícil representar-me seja o que for, caso aquele ato remoto nunca
tivesse existido.
Quanto mais retroceder na minha memória, ou, o que vem a dar na mesma,
quanto mais projetar no futuro o meu juízo, tanto mais duvidosos me
parecerão os meus raciocínios acerca da liberdade do ato realizado.
Leon Tolstoi, in 'Guerra e Paz'
Fonte: http://www.citador.pt/textos/a-liberdade-nunca-e-real-lev-tolstoi
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