Foto de Ricardo Silva
Por Roberto José da Silva
Palhaços somos, porque é preciso rir e fazer rir para mostrar que,
apesar de tudo, somos felizes. Gratos pela vida que nos foi presenteada.
Choramos também, mas por dentro, quando baixa o véu da tristeza pela
condição humana, quando nos deparamos com a insanidade alimentada pela
ganância, pelo poder, pela humilhação gratuita, pela destruição
generalizada, pela falta de caráter, pela futilidade, pela descrença,
pela consumo alucinado, pela exacerbação da individualidade, pela falta
de carinho, pela guerra entre irmãos, pela falta de amor, enfim. Somos
palhaços, sim, mas não somos idiotas como pensam os verdadeiros idiotas,
estes dos discursos fabricados, da cara lavada, das mãos sujas, das
costas viradas, da enganação como alimento, da baba escorrendo quando
dos conchavos para o roubo mais ignóbil, pois mais fácil, resultado de
uma traição àqueles que os colocaram nesta condição e alimentam o cofre a
ser saqueado. Somos palhaços porque rimos desta desgraça por acreditar
que nem todos são assim, mesmo que eles sejam minoria. Sabemos que, por
mais que estes seres abjetos se alimentem da podridão e do pensamento de
que estão enganando, a máscara sempre cai – e se não cair, eles serão
corroídos por dentro em seus palácios, mesmo que em pesadelos, mas
também na realidade dos olhos inocentes de uma criança, por exemplo –
seja dentro da própria casa, num flagrante passado na tela de tv ou ali
na esquina da vida real, vai uma balinha doutor? Somos palhaços, sim,
porque rimos de felicidade e emoção no gol do nosso time – e até jogada
de gênio do adversário, cantamos as músicas de ontem e de sempre,
amamos, temos amigos que são amigos, trabalhamos, pagamos as contas,
olhamos a natureza, cuidados dos filhos, dos mais velhos, nos
equilibramos com honra na corda bamba – mas também temos a navalha para o
que der e vier. E vamos cortando, do jeito que podemos. Sim, somos
platéia, mas o circo inteiro é nosso – e os que fazem essas palhaçadas
sem graça que nos jogam na cara no dia-a-dia, não entendem isso, porque
inebriados pelas luzes do picadeiro. Sabemos, no entanto, que o incêndio
não é o melhor caminho. Assim como a passividade. Nossa principal arma é
o poder da substituição. Também podemos vaiar, denunciar… e aplaudir,
seja o protagonista de que lado for. Como palhaços, podemos rir de
felicidade e de escárnio. Só não queremos que estes, os do picadeiro,
pensem que podem fazer tudo impunimente. Porque, no fim e no começo, nós
é que comandamos o espetáculo.
Fonte: http://jornale.com.br/zebeto/
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