quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A DANÇA DOS VAMPIROS

The Fearless Vampire Killers, 1967
 por Bernardo Brum

Foi com A Dança dos Vampiros que o produtor Robert Evans descobriu Roman Polanski, então em sua primeira investida no cinema americano. Egresso do perturbador Repulsa ao Sexo e do humor cruel de Armadilha do Destino, que tinham feito um barulho absurdo na Europa, Polanski inaugurou a sua fase anglófona com uma comédia pra lá de anacrônica, que lhe valeu o convite do produtor com quem realizaria O Bebê de Rosemary e Chinatown.

A história aparentemente inocente, que recorre ao visual dos filmes góticos da Hammer e da Universal, mas com uma belíssima fotografia em cores que pinta os ambientes escuros da estilizada Transilvânia de Polanski nunca de forma alegre ou vívida; as cores de Polanski, sutis em sua composição, recorrem a uma ironia fina que só o polonês sabe introduzir em seus filmes. Ou seja, mesmo com os elementos “pastelão” de humor físico, há também grande espaço para a comédia de situação e contexto; estas dotadas de um humor negríssimo que só uma cabeça como a de Polanski poderia conceber, onde ele prova se sair melhor do que no primeiro tipo; engraçadas em um nível superficial, as gags corporais que os personagens protagonizam são atraentes em nível apenas superficial, infantil;  a grande graça vem das situações absurdas que os protagonistas têm de enfrentar – que provocam o assim chamado riso por nervosismo.

Obviamente, mesmo tendo uma atmosfera bem menos pesada do que seus filmes de terror psicológico, Roman faz um filme cruel com seus personagens e com o destino dos mesmos; os caçadores de vampiros (o assistente é interpretado pelo diretor como um patético medroso apaixonado por uma ruiva – não apenas uma ruiva, uma deliciosa Sharon Tate – que acaba nas presas das criaturas da noite) estão reduzidos a infiltrar e rastejar o filme inteiro, enquanto seus antagonistas promovem até um baile de gala, soberanos. 
 
O homem sendo tragado irremediavelmente pela escuridão, por luxúria, cobiça, obsessão; as várias gracinhas já envelhecidas que o diretor espalhou ao longo da trama não serviram para ocultar o fetiche de Polanski: o ser humano, de vontade fraca, entregue à corrupção de um mundo contra o qual não pode lutar por ser muito maior que ele. O tipo de mal-estar existencial que não abandonou nem nos seus filmes mais medíocres.

Não que este seja o caso: apesar de seguir um estilo de comédia que não funciona muito se visto com um olhar contemporâneo, A Dança dos Vampiros é outra mostra do domínio narrativo de Polanski. A infiltração no castelo, para observar o baile para o qual a amada do ajudante medroso foi convidada à força para participar é tão engraçada quanto tensa, e acaba destrinchando em um final tão sádico quanto hilário.

Pelo jeito, nem as mentes mais perturbadas do cinema desprezam a grande arma que o humor é. Através dele, a vida pode se tornar um pouquinho mais suportável. E se vamos todos ser tragados pela escuridão, melhor ir para lá dando uma gargalhada.



Ficha técnica:  

A Dança dos Vampiros (The Fearless Vampire Killers) – EUA, 1967. Dir.: Roman Polanski. Elenco: Jack MacGowran, Roman Polanski, Alfie Bass, Sharon Tate,Ferdy Mayne, Jessie Robins

Fonte: http://cinecafe.wordpress.com/2010/08/15/a-danca-dos-vampiros-roman-polanski-1967/

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