por Zé da Silva
Sagitário
Sagitário
Gostava de água e estrelas. Estrelas na água, de preferência. Não
lembra quando olhou o brilho causado pela luz do sol no espelho num fim
de tarde, mas isso nunca mais saiu. Foi no lago, provavelmente, porque
desde pequena ia ali, na chácara dos avós. O encantamento era porque via
o espetáculo aqui embaixo, “entre nós”, ao alcance de algumas braçadas –
e depois, no silêncio da noite, estavam todas lá em cima, às vezes como
coadjuvantes da lua. Chegou a pensar que, em algum momento, levantavam
vôo, assim como a água, para ir ao céu – e talvez isso explicasse as
chuvas, mas nunca de estrelas. No trapiche de madeira carcomida pelo
tempo ficou várias para presenciar a magia. Em vão. Cresceu e as dúvidas
se dissiparam no caminho, assim como as certezas não chegaram, pois
achava que estas só existiam para os malucos. Mas as estrelinhas na água
continuaram a encantar. Estrelinhas era o nome certo. Um dia, sozinha
naquele templo de sossego, remou no barco velho até onde elas estavam. E
mergulhou para ficar no meio delas. Os olhos brilhavam tal e qual. Saiu
quando o sol se escondeu por trás da mata densa. Dormiu como um anjo.
Acordou, tomou banho e, então, viu, todo o corpo salpicado de
estrelinhas. Colocou a roupa a luminosidade trespassava os tecidos.
Voltou para a cidade grande, para o trabalho, e notou desde aquele dia
que as pessoas olhavam mais. Perguntou um dia para alguém conhecido se
havia algo diferente. Responderam que não. Em casa, via no espelho todas
elas lá, agrupadas, cintilantes. Achou então que tinha acontecido um
milagre. O da alma que se revelou sob o apelo das estrelas na água.
Descobriu, então, que sempre foi feliz.
Fonte: http://jornale.com.br/zebeto/
Nenhum comentário :
Postar um comentário