quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Sagitário

Gostava de água e estrelas. Estrelas na água, de preferência. Não lembra quando olhou o brilho causado pela luz do sol no espelho num fim de tarde, mas isso nunca mais saiu. Foi no lago, provavelmente, porque desde pequena ia ali, na chácara dos avós. O encantamento era porque via o espetáculo aqui embaixo, “entre nós”, ao alcance de algumas braçadas – e depois, no silêncio da noite, estavam todas lá em cima, às vezes como coadjuvantes da lua. Chegou a pensar que, em algum momento, levantavam vôo, assim como a água, para ir ao céu – e talvez isso explicasse as chuvas, mas nunca de estrelas. No trapiche de madeira carcomida pelo tempo ficou várias para presenciar a magia. Em vão. Cresceu e as dúvidas se dissiparam no caminho, assim como as certezas não chegaram, pois achava que estas só existiam para os malucos. Mas as estrelinhas na água continuaram a encantar. Estrelinhas era o nome certo. Um dia, sozinha naquele templo de sossego, remou no barco velho até onde elas estavam. E mergulhou para ficar no meio delas. Os olhos brilhavam tal e qual. Saiu quando o sol se escondeu por trás da mata densa. Dormiu como um anjo. Acordou, tomou banho e, então, viu, todo o corpo salpicado de estrelinhas. Colocou a roupa a luminosidade trespassava os tecidos. Voltou para a cidade grande, para o trabalho, e notou desde aquele dia que as pessoas olhavam mais. Perguntou um dia para alguém conhecido se havia algo diferente. Responderam que não. Em casa, via no espelho todas elas lá, agrupadas, cintilantes. Achou então que tinha acontecido um milagre. O da alma que se revelou sob o apelo das estrelas na água. Descobriu, então, que sempre foi feliz.


Fonte:  http://jornale.com.br/zebeto/

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