por Bernardo Brum
Foi com A Dança dos Vampiros que
o produtor Robert Evans descobriu Roman Polanski, então em sua primeira
investida no cinema americano. Egresso do perturbador Repulsa ao Sexo e do humor cruel de Armadilha do Destino,
que tinham feito um barulho absurdo na Europa, Polanski inaugurou a sua
fase anglófona com uma comédia pra lá de anacrônica, que lhe valeu o
convite do produtor com quem realizaria O Bebê de Rosemary e Chinatown.
A história aparentemente inocente, que
recorre ao visual dos filmes góticos da Hammer e da Universal, mas com
uma belíssima fotografia em cores que pinta os ambientes escuros da
estilizada Transilvânia de Polanski nunca de forma alegre ou vívida; as
cores de Polanski, sutis em sua composição, recorrem a uma ironia fina
que só o polonês sabe introduzir em seus filmes. Ou seja, mesmo com os
elementos “pastelão” de humor físico, há também grande espaço para a
comédia de situação e contexto; estas dotadas de um humor negríssimo que
só uma cabeça como a de Polanski poderia conceber, onde ele prova se
sair melhor do que no primeiro tipo; engraçadas em um nível superficial,
as gags corporais que os personagens protagonizam são atraentes em
nível apenas superficial, infantil; a grande graça vem das situações
absurdas que os protagonistas têm de enfrentar – que provocam o assim
chamado riso por nervosismo.
Obviamente, mesmo tendo uma atmosfera bem
menos pesada do que seus filmes de terror psicológico, Roman faz um
filme cruel com seus personagens e com o destino dos mesmos; os
caçadores de vampiros (o assistente é interpretado pelo diretor como um
patético medroso apaixonado por uma ruiva – não apenas uma ruiva, uma
deliciosa Sharon Tate – que acaba nas presas das criaturas da noite)
estão reduzidos a infiltrar e rastejar o filme inteiro, enquanto seus
antagonistas promovem até um baile de gala, soberanos.
O homem sendo
tragado irremediavelmente pela escuridão, por luxúria, cobiça, obsessão;
as várias gracinhas já envelhecidas que o diretor espalhou ao longo da
trama não serviram para ocultar o fetiche de Polanski: o ser humano, de
vontade fraca, entregue à corrupção de um mundo contra o qual não pode
lutar por ser muito maior que ele. O tipo de mal-estar existencial que
não abandonou nem nos seus filmes mais medíocres.
Não que este seja o caso: apesar de seguir um estilo de comédia que não funciona muito se visto com um olhar contemporâneo, A Dança dos Vampiros
é outra mostra do domínio narrativo de Polanski. A infiltração no
castelo, para observar o baile para o qual a amada do ajudante medroso
foi convidada à força para participar é tão engraçada quanto tensa, e
acaba destrinchando em um final tão sádico quanto hilário.
Pelo jeito, nem as mentes mais
perturbadas do cinema desprezam a grande arma que o humor é. Através
dele, a vida pode se tornar um pouquinho mais suportável. E se vamos
todos ser tragados pela escuridão, melhor ir para lá dando uma
gargalhada.
Ficha técnica:
A Dança dos Vampiros (The Fearless Vampire Killers) – EUA, 1967. Dir.: Roman Polanski. Elenco: Jack MacGowran, Roman Polanski, Alfie Bass, Sharon Tate,Ferdy Mayne, Jessie Robins
Fonte: http://cinecafe.wordpress.com/2010/08/15/a-danca-dos-vampiros-roman-polanski-1967/
A Dança dos Vampiros (The Fearless Vampire Killers) – EUA, 1967. Dir.: Roman Polanski. Elenco: Jack MacGowran, Roman Polanski, Alfie Bass, Sharon Tate,Ferdy Mayne, Jessie Robins
Fonte: http://cinecafe.wordpress.com/2010/08/15/a-danca-dos-vampiros-roman-polanski-1967/
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