por Zé da Silva
Libra
Depois que abriu a água fria da torneira da pia, viu a minúscula
lagartixa. Ela começou a rodopiar no movimento da água e ele sentiu um
prazer sádico naquilo. Abriu mais a torneira, para manter o espetáculo.
Sabia que, se interrompesse a vazão da água, ela despareceria na
escuridão do encanamento. Não lembra mais quanto tempo ficou assim. De
vez em quando se pegava torcendo para que o bichinho alcançasse a louça
branca e se salvasse. Mas era impossível. Mesmo porque, sempre que ela
estava perto de colocar uma patinha (patinha?) para tentar escapar do
tormento, ele girava a torneira e o jato de água aumentava. Por fim, ela
se foi. Ele nem conseguiu fixar na mente o último instante. No meio da
noite, acordou aos gritos, dentes trincados. Dizia que um crocodilo do
Nilo estava comendo seus pés. Levantou. Estava suado. Foi ao banheiro.
Acendeu a luz. Foi lavar o rosto. Aí, viu. Ela, a lagartixa minúscula
estava lá. E ele jura que ela riu dele. Ou para ele.
Fonte: http://jornale.com.br/zebeto/
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